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Alexys Agosto é capa da Diversity Mag – 1ª edição

É com grande entusiasmo que abrimos as portas da Diversity Mag para nossa primeira capa, celebrando o Mês do Orgulho com uma voz essencial. Convidamos Alexys Agosto, artista não binária e criadora do impactante álbum ‘A Fabulosa Viagem de Futurística‘, uma obra que aborda questões políticas e sentimentos íntimos da nossa comunidade, para uma entrevista especial.

O bate papo que explora como sua arte e presença contribuem para um futuro mais inclusivo e visível, já está disponível. Confira agora na íntegra:

Alexys, é um imenso prazer ter você em nossa primeira capa e no mês do orgulho. Com o lançamento do álbum “A Fabulosa Viagem de Futurística” ganhando um novo olhar neste mês em especial, como você percebe a importância deste período específico para a sua arte e para a comunidade LGBTQIAP+ em geral?

Eu quem agradeço a oportunidade de ser a primeira capa aqui com vocês! O mês do orgulho é muito importante para a nossa comunidade porque é um momento que nossas pautas ganham destaque. É um mês para celebrar toda a resistência do movimento LGBTQIAPN+ ao longo da nossa história, e aproveitar isso para energizar a nossa luta no cotidiano. Além de ser uma ótima oportunidade de nos organizarmos politicamente. Inclusive, tem um coincidência que acho um tanto quanto divertida que acaba deixando esse mês ainda mais especial pra mim: a Revolta de Stonewall, que é o motivo pelo qual celebramos junho como o mês do orgulho, aconteceu em 28 de junho de 1969. E aí, em 28 de junho de 1997 aconteceu a primeira Parada LGBT em São Paulo. E nesse mesmo dia eu nasci. 

Você menciona que o álbum aborda “questões políticas e também sentimentos muito íntimos” da nossa comunidade. Quais são as principais mensagens políticas que você espera que o público absorva ao ouvir “A Fabulosa Viagem de Futurística”, especialmente neste contexto de celebração e luta do Mês do Orgulho?

Acho que principalmente levar as pessoas a pensarem sobre a nossa sociedade e o que aprisiona o nosso corpo. Sinto que as pessoas cis não costumam refletir sobre essa questão de “o que é gênero?” porque acham que esse é um elemento natural. Provocar essa reflexão em uma faixa chamada Ciborgue, em que canto sobre como o gênero é uma tecnologia e que você já incorporou essa tecnologia de alguma forma e por isso também é um ciborgue computado tanto quanto eu. Em outras canções tento construir uma ideia de liberdade, trazendo uma mensagem de se desprender da normatividade e deixar o corpo ser livre para dançar como te faz sentir melhor. Mas também falo das dores que vêm junto com enfrentar essa normatividade. E isso também é extremamente político. O álbum como um todo é uma tentativa de colocar em perspectiva um futuro no qual todes nós seremos mais livres para ser quem queremos ser. 

Em um cenário onde a representatividade LGBTQIAP+ na mídia ainda é um desafio, qual você acredita ser o papel de artistas como você na construção de um futuro mais inclusivo e visível para a comunidade?

Acho que nós artistas temos o grande poder de construir imaginário na sociedade. Esse é o papel da representatividade na cultura na minha opinião. Nossos corpos são estigmatizados, fetichizados e marginalizados, mas através da arte podemos subverter essa lógica heterocisnormativa. Podemos mostrar que somos seres humanos complexos com as nossas questões, as nossas dores e as nossas alegrias. Também podemos nos reconhecer entre nós, e até mesmo elaborar de forma sensível e política a nossa existência e o que queremos construir como identidade. Então a arte é um espaço muito fértil para provocar mudanças na nossa sociedade, e acho que é isso que diversos artistas LGBTs estão tentando fazer hoje em dia. 

Como artista não binária, qual a importância de ter um espaço de voz e visibilidade em um mês como este? Que tipo de impacto você acredita que sua presença e sua arte podem ter para outras pessoas não binárias e da comunidade trans?

A não binariedade ainda é uma identidade de gênero que as pessoas cis têm dificuldade de entender, porque ela rompe com essa dicotomia de Homem X Mulher que categoriza a gente. É até frequente eu ter que explicar pras pessoas que não sou uma mulher trans, mas uma pessoa team não binária que usa pronomes femininos. Então ter a oportunidade de falar sobre isso, através das minhas músicas, do meu trabalho e em entrevistas como essa é acender uma faísca no meio de uma noite escura. Mas uma faísca sozinha não é uma fogueira e não ilumina uma noite sem estrelas. Em São Paulo agora existe uma cena de artistas trans muito forte, em diferentes linguagens artísticas. No Brasil todo isso já está acontecendo. E eu acho que esse movimento vem fortalecendo muito a gente enquanto comunidade. 

O álbum é descrito como um “hino de representatividade, liberdade e auto aceitação”. Como você espera que sua música contribua para o processo de auto aceitação de pessoas que estão em jornadas semelhantes às suas?

Fazendo essas pessoas se sentirem menos sozinhas. É difícil quando a gente não tem nenhum ponto de referência, mas quando vemos que tem mais gente que compartilha uma vivência parecida, a gente começa a ter em perspectiva uma possibilidade de existência. Esse é o meu maior objetivo com o meu trabalho: construir um imaginário que pessoas que têm vivência parecidas com as minhas consigam se ver nele. Acredito que isso possa ser um combustível para fortalecer e ajudar algumas pessoas a enfrentar as dificuldades e violências que são submetidas todos os dias. 

Ouça o álbum:

Existe alguma mensagem específica que você gostaria de passar para a comunidade LGBTQIAP+ jovem que está começando a explorar sua identidade e que pode se sentir como “um ET nesse planeta”, como você descreve?

Que você não está só, existem muitos ETs nesse planeta. E ser um ET não é algo ruim. É desafiador, mas nós só temos uma vida para viver e não podemos desperdiçar ela. Se é ali que está a sua verdade, a sua vitalidade, é por ali que você tem que caminhar. 

Como você enxerga a evolução da representatividade LGBTQIAP+ na música brasileira nos últimos anos? Quais avanços você celebra e quais lacunas ainda precisam ser preenchidas?

Os musicistas LGBTQIAPN+ sempre estiveram muito presentes na cena musical, inclusive no mainstream. Quando pensamos nos grandes nomes da música do final do século XX, por exemplo, você encontra diversos cantores e compositores homossexuais ou bissexuais e que traziam isso para o seu trabalho. Mas acho que nos últimos dez anos eu acho que surgiram muitas musicistas trans. Não que não existissem antes, mas ficava muito no underground. A Claudia Wonder por exemplo era uma dessas artistas. Mas de 2015 pra cá a comunidade passou a ser uma parte muito expressiva no mercado. O problema é que eu sinto que estamos num período histórico no qual estamos regredindo um pouco. Com o avanço do conservadorismo temos perdido espaço no mercado nacional e internacionalmente. Artistas trans e artistas não bináries já enfrentavam muitas dificuldades, tentativas de censura. Mas depois de 2018 isso piorou muito e às vezes parece que estamos chegando em um momento de lutar para manter direitos que achávamos que já tínhamos conquistado. 

Quais artistas LGBTQIAP+ são suas grandes referências e inspirações, tanto musicalmente quanto na forma como utilizam sua arte para promover a representatividade?

Na música eu a Linn da Quebrada, a Liniker e a Pabllo Vittar me inspiram muito. Já estudei muito as músicas delas para entender como elas constroem a feminilidade delas através da voz. Nas artes cênicas eu me inspiro muito em um grupo teatral dos anos 1970 chamado Dzi Croquettes. Eles se formaram lá no Rio de Janeiro, era um grupo de homens que se montavam e faziam um espetáculo repleto de dança, maquiagens e figurinos super andrógenos e que diziam “não ser nem homens, nem mulheres, mas gente”. Eu fiz uma iniciação científica sobre eles na graduação, passei um ano e meio lendo as dramaturgias, analisando entrevistas e também entrevistei os ex-integrantes. É um grupo que eu estudei tanto que acaba influenciando diretamente o meu trabalho artístico. 

Pensando em futuras colaborações, quais artistas LGBTQIAP+ você adoraria fazer um feat? E por que a parceria com eles seria interessante para o seu trabalho e para a mensagem que você quer transmitir?

Olha, eu tenho meio que esse fear nos sonhos na minha cabeça que seria tipo um megazord: uma música que uniria eu, Alexys Agosto, Linn da Quebrada, Arca e Pabllo Vittar. Acho que o nosso som é muito diferente mas muito parecido ao mesmo tempo e seria muito interessante descobrir o que sairia dessa junção. Acho que seria um grande momento de aprendizagem sobre o fazer musical, e ainda poderíamos trazer uma mensagem de representatividade bem legal. 

O ano de 2025 promete ser agitado, com novos lançamentos e a turnê “A Fabulosa Experiência de Futurística”. O que o público pode esperar dessa turnê e dos seus próximos projetos?

Eu acabei de lançar um feat com Pedro Lara, um cantor que produzo e lançou agora em junho o seu primeiro álbum. Eu que produzi o álbum dele e tem uma faixa chamada Vontade de Você que é uma composição minha e que eu também canto com ele. Queremos agora divulgar essa parceria, fazer alguns shows em conjunto. Pretendo circular mais com A Fabulosa Experiência de Futurística agora no segundo semestre também. Esse show é muito especial pra mim porque é um espaço de experimentação cênica em cima das minhas músicas. Acho que as pessoas vão gostar, é um formato de espetáculo bem híbrido, mistura música, performance, dança e poesia para construir uma relação bem próxima ao público. 

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